Pr. Evandro L.
Cunha, Ph.D.
é especialista em
Filosofia e Psicologia da Sexualidade e da Família,
e em Ciências
Neuropsicocomportamentais.
É doutor em
Filologia pela Universidade de Barcelona, Espanha.
Estou com 52 anos de idade, quase 30 de casado e mais de 20
trabalhando com aconselhamento de família e casais. Tem coisas que só com o
tempo e estudo profundo vamos compreender. Assim que iniciei no pastorado
pensava que quem trai era um(a) devasso(a). Mas com o passar o tempo compreendi
que QUEM TRAI NADA MAIS É QUE UM SER HUMANO. Quanto a frase (título) que usei
no meu artigo “Alteridade: a importância do outro”, é um fato científico e
bíblico. Não há base teológica para afirmar que Eva e Adão pecaram porque deixaram
de amar a Deus. Não há indícios que Davi tenha pecado porque deixou de amar a
Deus. O mesmo pode ser estendido a todos os personagens bíblicos que cometeram
pecado, e o adultério não escapa desse modelo. A Bíblia afirma que pecamos, não
apenas porque temos uma natureza caída (Lúcifer, Eva e Adão não a tinham), mas
porque Deus nos dotou com a capacidade de fazer escolhas, tomar decisões, o que
teologicamente chamamos de livre-arbítrio. Em outras palavras, o Diabo pode nos
tentar, mas o ato pecaminoso só pode se concretizado por nós. Afinal de contas,
somos nós quem decide pecar ou não.
Quanto ao que afirmei que “é possível trair mesmo amando o
cônjuge” é tanto uma verdade empírica verificável quanto científica. Segundo
pesquisa, esse é um fenômeno que afeta mais o sexo masculino, ou seja, os
homens são mais dominados pela pulsão sexual, eles traem movidos pelo desejo,
independente dos afetos. Enquanto as mulheres quando traem, em sua maioria, o
fazem quando há um envolvimento sentimental positivo (se apaixonam) ou negativo
(por vingança).
Essa minha afirmação-título pode parecer um tanto
escandalosa e heterodoxa, mas é verdadeira. O problema crucial, na minha
opinião (o que falo em meu livro “Sexo e Erotismo para Casais”), é que muitos
de nós têm uma ideia negativa das pulsões sexuais. Não queremos admitir nossas
tentações e fraquezas nesse campo. Porque fomos ensinamos que os santos não têm
pensamentos eróticos, portanto, negamos aquilo que somos para sermos aceitos na
comunidade dos “normais” e santos. Mas se você é casado(a) e ama seu cônjuge,
talvez em algum momento teve uma fantasia sexual com outra pessoa. Embora não
admita, nem é necessário fazê-lo, mas você e Deus sabem que isso faz parte
constituinte de nossa estrutura neurobioquímica e psíquica. Portanto, não
estamos advogando nenhuma heresia, mas uma “teologia” interdisciplinar e
trans-eclesiástica da sexualidade humana. Jesus não negou a nossa sexualidade
quando afirmou: “Ouviste que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo:
qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já
adulterou com ela” (Mat. 5.27-28). Ninguém deixa de amar a esposa ou esposo ao
olhar para o sexo oposto com intenções libidinosas, isso ocorre porque somos
humanos e sexualizados. E ninguém deveria se sentir envergonhado ou
inferiorizado por isso. O que Jesus nos advertiu foi que estivéssemos atentos
ao olhar, ou melhor, a troca de olhares, como nós afirmamos no artigo
mencionado acima.
Portanto, qualquer conselheiro familiar, psicólogo ou
terapeuta sabe, por experiência profissional, que o amor não impede o
adultério. O que pode neutralizar a infidelidade é nossa tomada de decisão,
que no meu caso já mencionado, uso sempre a “fórmula”: Pensar em Deus, em minha
família e na minha igreja. Isso tem funcionado até agora como uma força anti-libidinosa,
que não erradica meus desejos sexuais, mas os neutraliza a tal ponto de não
poder transformá-los em ato.
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