segunda-feira, 24 de março de 2008

JESUS: A Única Saída para a Crise no Oriente Médio

Evandro L. Cunha
Doutorando em Teologia



Viver na Palestina é uma experiência indescritível, mas também é se expor ao risco todos os dias. É um privilégio pisar na terra que os patriarcas e Jesus pisaram. Ter uma dimensão mais viva da geografia e reler alguns incidentes bíblicos é algo fascinante. Todavia, é desanimador contemplar uma sociedade marcada pelo antagonismo. Onde a religião é um fator que une, não apenas o homem a Deus, mas o homem à guerra. Para entender o que se passa por aqui é necessário voltar um pouco no tempo.

As Raízes Histórico-espirituais da Crise no Oriente Médio
Quando Moisés escreveu o livro de Gênesis tinha em mente, entre outras coisas, elucidar os fatos acerca de nossas origens e as causas de nosso sofrimento. Em Teologia chamamos isso de Narrativa Etiológica. Registra a historicidade do primeiro casal e onde o ato de desobediência ocorreu. O local onde o Mal e o sofrimento entraram neste mundo é descrito como Éden. Que em hebraico significa “delícias”. Moisés acrescenta mais um detalhe, afirma que o jardim foi plantado no território do Éden (Gên. 2:8). Logo, ele está fazendo uma pequena distinção entre jardim do Éden e território do Éden. Podemos ver isso nos versos: “10 E saía um rio do Éden para regar o jardim e dali se dividia, repartindo-se em quatro braços. 11 O primeiro chama-se Pisom; é o que rodeia a terra de Havilá, onde há ouro. 12 O ouro dessa terra é bom; também se encontram lá o bdélio e a pedra de ônix. 13 O segundo rio chama-se Giom; é o que circunda a terra de Cuxe. 14 O nome do terceiro rio é Tigre; é o que corre pelo oriente da Assíria. E o quarto é o Eufrates” (Gên 2). Ainda no texto em consideração, Moisés identifica, no sentido geográfico restrito, o Éden. Ele ficava entre quatro rios acima mencionados. Se olharmos em um mapa do mundo antigo veremos que se trata da geografia aproximada do Oriente Médio: Desde os rios Eufrates e Tigre, próximos ao Irã e Iraque até o Egito e Líbamo, como veremos mais adiante.
Para Moisés era vital que as pessoas entendessem que a primeira vez que Deus falou ao homem foi ali, naquelas terras desérticas que outrora fora uma terra fértil e abrigava o Paraíso. O plano original de Deus para o Oriente e para o mundo era que fosse um grande jardim. Essa idéia está ainda hoje no inconsciente coletivo – a idéia de Paraíso, geralmente, envolve a existência de jardim. E se analisarmos de forma mais ampla veremos que o ato dos babilônicos idealizarem os “jardins suspensos” era uma reminiscência da idéia de paraíso, mas neste caso, um paraíso sem o Deus verdadeiro. Essas duas metáforas: jardim e deserto, vão permear toda a Bíblia. A ida de Jesus ao deserto após Seu batismo (Mat. 4) e o seu corpo colocado em um jardim (João 19:41) não são acidentes literários. Ou quando o Apocalipse menciona a igreja no deserto (Apoc. 12:6 e 14) e a descida do jardim de Deus (árvore da Vida), deve ser entendidos à luz do Gênesis (Apoc. 22:2).
Em termos históricos e espirituais, o pecado e o sofrimento eclodem no palco da humanidade no Oriente. Mesmo após o Dilúvios e as mudanças topográficas causadas pelo mesmo, Moisés localiza esses pontos que eram conhecidos de seus ouvintes. Isso fica claro no chamado de Abraão: “Naquele mesmo dia fez o Senhor aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência dei esta terra, desde o rio do Egito até o ao grande rio Eufrates” (Gênesis 15:18). Depois na conquista da Terra Prometida, diz: “Desde o deserto e do Líbano, até ao grande rio, o rio Eufrates, toda a terra dos heteus, e até ao Grande Mar para o poente do sol, será o vosso termo”. (Josué 1:4). Em outras palavras, a Terra da Promessa era o antigo território do Éden, ou seja, o Oriente Médio. Deus havia ordenado ao povo de Israel reconquistar o território sagrado. Infelizmente, só no reinado de Salomão Israel chegou perto desse ideal de conquista: “Dominava Salomão sobre todos os reinos desde o Eufrates até a terra dos filisteus e até ao termo do Egito; os quais pagavam tributo, e serviram a Salomão todos os dias da sua vida” (I Reis 4:21).
Exílio e a Diáspora como metáforas espirituais. A permanência de Israel na Terra Santa estava condicionada a sua obediência aos Mandamentos de Deus. O Exílio Babilônico e a Diáspora no período romano confirmaram isso. Logo, não podemos entender o conflito no Oriente Médio apenas com dados sociais e políticos, mas também históricos e espirituais. Esse pedaço de terra, em especial, a Palestina, é muito importante aos olhos de Deus. Foi aqui que o pecado entrou no mundo. Mas também foi nessas terras desérticas que o Filho de Deus assumiu a forma humana, desenvolveu Seu ministério (sem jamais sair do território sagrado) e morreu numa cruz. Em um monte próximo de Jerusalém, Ele subiu ao céu e prometeu voltar e aqui será estabelecido a Nova Jerusalém e o Trono de Deus (Zac. 14:4 e Apoc. 22:2-3 e 5).

A Cruz como Fator Decisivo para entender a Crise no Oriente Médio
A hostilidade demonstrada aqui é um reflexo de uma violência maior que ocorreu no Éden e no Calvário. Satanás sabe o que muitos cristãos ignoram. O Oriente é palco não só de lutas políticas, mas de um conflito cósmico entre o Bem e o Mal. Ezequiel descreve Satanás como estando “no Éden, jardim de Deus” (Ezeq. 28:13). Quando o homem pecou saiu do jardim – perdeu o território sagrado. A promessa de Deus aos profetas era que o território seria reconquistado, “não por força nem por violência, mas por meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zac. 4:6). A dialética espiritual vivida por Israel ilustra a dimensão do mundo espiritual no qual estamos inseridos.
Quando Jesus Cristo veio, o Messias, o Príncipe da Paz, João diz que Ele “Veio para o que era Seu [o mundo], mas os Seus [os judeus] não o receberam” (João 1:11 ). Ainda no ventre Jesus teve que escapar da ferocidade de Satanás. Depois do batismo teve que enfrentá-lo no deserto. Durante Seu ministério sofreu oposição dos religiosos e líderes políticos. Seu discurso era conciliador. Falava de paz, perdão, amor, reconciliação, vida abundante, etc.. O desfeche de Sua trajetória foi uma morte solitária em monte pedregoso. A violência no Oriente Médio é uma radiação de uma guerra maior. Todavia, Jesus não desistiu do ser humano. As suas lágrimas diante de uma Jerusalém indiferente testificam isso (Mat. 23:37). Ele ordenou aos seus discípulos irem anunciar a mensagem que enquanto o ser humano persistirem em viver pecando, este mundo será um grande deserto marcado pela dor e sofrimento. Mas há esperança. O sangue Dele derramado na cruz foi suficiente para selar uma Nova Aliança com a humanidade. Diante de Deus, todos nós estamos alienados e precisamos urgentemente de Jesus. Como diz Paulo em Romanos 3: “9 Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; 10 como está escrito: Não há justo, nem um sequer,11 não há quem entenda, não há quem busque a Deus;12 todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.13 A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios,14 a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura;15 são os seus pés velozes para derramar sangue,16 nos seus caminhos, há destruição e miséria;17 desconheceram o caminho da paz. 18 Não há temor de Deus diante de seus olhos”. A Palestina e todo o Oriente Médio carecem da segurança que só Jesus é capaz de ofertar.

A Tríplice Mensagem: O único discurso capaz de trazer de volta
a esperança ao Oriente Médio
A mensagem adventista, o Evangelho Eterno (Apoc.14:6), é a única que ainda detém os valores do Cristianismo Primitivo. O Catolicismo e as igrejas Ortodoxas gregas contaminaram a Terra Santa com idolatria, heresias, superstições e misticismo inócuo. O Protestantismo escravizou ensinando a guarda do domingo e a imortalidade da alma. Por outro lado, Maomé e seus seguidores criam que estavam inaugurando uma nova era de espiritualidade para o mundo, sem idolatria, sem instituição e uma continuação profética inovadora, cuja missão era submeter o mundo a vontade de Deus. A palavra Islã significa “submissão”. Hoje, o islã é usado como alicerce para o discurso de líderes fundamentalistas e justificativas para ataques terroristas. Na outra vertente, temos o judaísmo ressentido dividido entre secularistas, moderados, ortodoxos e ultra-ortodoxos. Mesclando capitalismo, fervor político e zelo religioso. Aliado dos Estados Unidos (segunda besta de Apoc. 13) e agindo como Nazismo na Faixa de Gaza, advoga ser a voz de Deus no Oriente. Enfim, todos os canais espirituais no Oriente Próximo estão fadados ao fracasso porque estão alienados da verdadeira fonte espiritual que é Jesus Cristo.
O pseudocristianismo aqui estabelecido tem alienado mais do que esclarecido. Visitando um ambiente católico em Jerusalém vi uma foto de um “árabe convertido acendendo velas para a virgem Maria”. Li num site evangélico um testemunho de um “judeu convertido que se livrou do jugo da Lei, não guarda mais o sábado. Está livre em Jesus”. Essa é uma das nuances da “abominação desoladora” da qual falou o profeta Daniel (Dan. 11:31; 12:11 e Mt 24:15). Um “convertido” ao falso cristianismo aprende a adorar ídolos, a comer carne de porco, a crer na imortalidade da alma, a guardar o domingo, a divinizar instituições e ritos, a negar suas raízes étnicas, a relativizar seu comportamento moral e ter uma concepção equivocada da volta de Jesus.
Só a mensagem restauracionista da Igreja Adventista do Sétimo Dia pode levar o verdadeiro Jesus àqueles que estão sedentos de uma espiritualidade mais profunda. Entretanto, é vital lembrar que ao transmitir o Evangelho Eterno, seja apresentado como Revelação de Deus e não como um produto de uma instituição religiosa ocidental.

Conclusão:
Os conflitos sangrentos no Oriente Médio é um clamor semelhante ao dos macedônicos na época de Paulo: “Passa... e ajuda-nos” (Atos 16:9). As iniciativas de evangelização neste lado do mundo são dignas de louvor, mas ainda é algo muito restrito se levarmos em consideração que aqui é o umbigo do mundo. Agora entendo melhor quando Jesus elaborou sua estratégia de missão começando por Jerusalém (“... e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”. Atos 1:8). O que acontece aqui afeta o mundo todo. É algo semelhante à Bolsa de Valores de Nova York. Jerusalém sempre foi uma cidade cosmopolita, capaz de abrigar pessoas de diferentes raças e credos. Andar pelas ruas de Jerusalém hoje é tomar consciência de que as palavras do Galileu nunca foram tão atuais. Sim, Jesus estava certo. Jerusalém deve está no centro de nossa missão.
Como alcançar árabes traumatizados pelas ações dos mensageiros do Deus único? O que fazer para dialogar com judeus que crêem que já sabem tudo, pois são detentores dos oráculos divinos? Ou os cristãos (católicos, ortodoxos e protestantes) que advogam que sua missão é evangelizar judeus e árabes com o “vinho de Babilônia” (Apoc 17 e 18)? Sem falar ainda daqueles que estão buscando caminhos alternativos por uma espiritualidade egocêntrica, cujo lema é: “eu e Deus – o importante é a paz interior”. Desafios semelhantes estavam postos diante dos discípulos. Todavia, Jesus mostrou que evangelizar é um ato de Deus através do homem. É o Verbo tornando-se carne outra vez!
Humanamente falando, é uma missão impossível. Não será através de debates teológicos sobre o sábado, nem sobre estilo de vida, imortalidade ou mortalidade da alma, ou qualquer outra doutrina que faz do adventismo é um movimento singular. Será algo de dimensão espiritual: “E recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas....” (Atos 1:8 pp). No registro de Atos e de Lucas está escrito que os discípulos só saíram de Jerusalém, quando foram revestidos do Poder. As pessoas agora olhavam para eles. Então, eles começavam a testemunhar com firmeza, convicção e amor – sinal distintivo dos seguidores de Jesus (João 13:35). Qual foi o resultado? “Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (Atos 6:7). Sim, a mensagem de Jesus ainda tem o poder para quebrar as barreiras que separam os verdadeiros filhos de Deus. Jesus não é a esperança apenas para o Oriente, mas para o mundo todo. A religião de Jesus precisa voltar com toda a sua força para concluir a obra que um dia começou, aqui no Oriente Médio.

Um comentário:

Anônimo disse...

OLÁ PASTOR
É O FRANCIMAR
GOSTEI DE SEUS TEXTOS
SE NAO LI TODOS LI QUASE TODOS
SALVEI ALGUNS SERMOES
E ME SERÃO MUITO UTEIS

QUE CONTINUE O ABENÇOANDO
E LEMBRANÇAS A FAMILIA

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